A pedagoga Carlena Gama, de 55 anos, teve uma surpresa ao se preparar para uma cirurgia plástica reparadora pós-bariátrica: a descoberta de linfonodos alterados na axila. Após exames, em janeiro de 2022, veio o diagnóstico de câncer de mama em estágio inicial. Hoje, três anos depois, em remissão, ela se aproxima da cura e destaca a importância do diagnóstico precoce e do “Outubro Rosa” na conscientização sobre a prevenção.
“No raio-X, detectaram linfonodos na minha axila. A médica indicou um mastologista e, para minha sorte, consegui consulta para o dia seguinte”, relata Carlena sobre a descoberta. Inicialmente, os médicos tentam tranquilizar o paciente, sugerindo outras causas para os linfonodos, até se chegar ao diagnóstico final.
Segundo Carlena, o maior desafio é a aceitação do diagnóstico. Ter uma rede de apoio é crucial, pois a doença pode ser uma jornada solitária. “A aceitação é o mais difícil. Como sou uma pessoa de fé, não questionei ‘por que eu’, mas ‘para que eu?’. É um processo até digerir, vendo seus filhos crescendo. É uma doença muito solitária, apesar do apoio. Você se pergunta se o corpo vai resistir, até onde vai aguentar.”
A pedagoga encontrou forças na família, amigos, fé e equipe médica. “Tenho orgulho de ser parte da maior geração sobrevivente de câncer de mama”, completa.
Após o tratamento bem-sucedido, Carlena está em remissão, no terceiro dos cinco anos necessários para ser considerada “curada” estatisticamente, o que significa uma queda significativa no risco de reaparecimento da doença.
“Pela minha fé, estou curada; pela ciência, faltam dois anos para a alta definitiva. Faço exames de controle a cada três meses. Em janeiro, suspeitaram de metástase, mas o PET scan não detectou nada nos ossos. O controle a cada três meses permite verificar se a doença está sob controle. Daqui a cinco anos, se tudo estiver bem, terei alta e farei consultas a cada seis meses, depois anualmente. Mas creio que já estou curada”, afirma.
Carlena ressalta que, embora o “Outubro Rosa” seja importante, as mulheres não devem esperar por esse mês para se examinarem. “Descobri no estágio inicial. O Outubro Rosa tem que ser todo mês, porque não dá para esperar outubro para se tocar ou fazer mamografia. Às vezes, quando se procura só em outubro, o câncer já está avançado. O diagnóstico precoce salva vidas.”
Entre janeiro e agosto deste ano, foram registrados 349 casos de câncer de mama no Pará, sendo 76 em Belém. Desses, 83 ocorreram em mulheres entre 40 e 49 anos. Em setembro, o Ministério da Saúde anunciou que mulheres nessa faixa etária terão acesso à mamografia pelo SUS, mesmo sem sintomas. Os exames podem ser realizados em qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS), e, em caso de suspeita, a paciente é encaminhada para unidades de referência em mastologia oncológica.
Segundo o mastologista Marcelo Campos, a mamografia continua sendo o método mais eficaz para a detecção precoce. “A mamografia é o melhor exame para rastreamento, reduzindo a mortalidade em 25%. O rastreamento anual a partir dos 40 anos é recomendado por diversas entidades e, agora, pelo Ministério da Saúde. Após os 70 anos, não há dados conclusivos sobre o benefício.”
O autoexame pode identificar alterações, mas não deve ser usado como método de diagnóstico. “O autoexame não reduz a mortalidade, mas pode ser importante em áreas com poucos recursos. Ele detecta nódulos palpáveis, sangramentos, espessamentos ou mudanças na pele. Se notar algo, procure um médico rapidamente.”
O médico explica como fazer o autoexame: “Em frente ao espelho, observe as mamas com os braços ao lado do corpo e depois erguidos, procurando nódulos, inchaços, áreas assimétricas, alterações na pele, feridas, retrações ou aumento no volume da mama. No banho, palpe com as pontas dos dedos em movimentos circulares, examinando mamas e axilas. Faça o mesmo deitada, para facilitar a percepção de alterações.”
Além dos exames, um estilo de vida saudável é essencial para prevenir o câncer de mama. “Mantenha o peso, pratique atividade física, tenha uma alimentação saudável, evite cigarro e álcool. A amamentação é um fator protetor”, finaliza.
Para quem já recebeu o diagnóstico, o tratamento pode ser desafiador. No Pará, ele está disponível pelo SUS em unidades de alta complexidade. Segundo o oncologista clínico Rodnei Macambira, os tipos de tratamento variam conforme o estágio da doença. “No tratamento do câncer precoce, temos técnicas menos invasivas, como radioablação e cirurgias minimamente invasivas, permitindo altos índices de cura. Também temos drogas novas que aumentam a sobrevida. Para o estágio avançado, temos a imunoterapia, que oferece altas taxas de resposta e maiores chances de controle da doença. Há também anticorpos conjugados, terapias-alvo e genéticas.”
Além do estágio, o tipo de câncer de mama também é determinante para o tratamento. “Existem tipos mais e menos comuns, como o carcinoma invasivo e os subtipos moleculares. É fundamental definir o tipo molecular e patológico do câncer”, explica.
A remoção das mamas nem sempre é necessária. “Cada vez menos pacientes com câncer de mama em estágio inicial precisam retirar todas as mamas. Existem estudos que apoiam cirurgias conservadoras, com ou sem reconstrução. A paciente será avaliada para saber se precisa de radioterapia, quimioterapia ou outra terapia. Quanto mais cedo a doença for descoberta, maiores as chances de cirurgia conservadora”, afirma o oncologista.
Embora mais raros, homens também podem ter câncer de mama. “Estima-se que menos de 10% dos casos ocorram em homens. O diagnóstico é feito da mesma forma que nas mulheres: ao perceber um nódulo ou alteração, o homem procura avaliação médica. Geralmente, faz-se ultrassonografia e, em caso de suspeita, biópsia”, explica Rodnei Macambira.
Para agendar mamografias, procure qualquer Unidade Básica de Saúde (UBS). Em caso de alteração ou suspeita, os pacientes são direcionados às policlínicas ou unidades de referência com atendimento em mastologia oncológica. O tratamento de alta complexidade pelo SUS é realizado no Hospital Ophir Loyola (HOL) e Hospital Universitário João Barros Barreto, em Belém; no Hospital Regional de Castanhal; no Hospital Regional do Baixo Amazonas (HRBA), em Santarém; no Hospital Regional de Tucuruí; e no Hospital Regional do Sudeste do Pará “Dr. Geraldo Veloso”, em Marabá.
Fonte: www.oliberal.com