mangas caem, Belém celebra: tradição viva na cidade!

Facebook
X
WhatsApp
Telegram
Dilson Pimentel
Dilson Pimentel

Belém, a metrópole das mangueiras, pulsa com uma cena que transcende gerações: a animada corrida pelas mangas que se desprendem das árvores. Ruas, praças e a icônica Praça da República são palco desse costume enraizado na identidade da capital paraense, célebre por suas vias sombreadas por mangueiras exuberantes.

Na capital paraense, onde as mangueiras são tão emblemáticas quanto o açaí, a tradição de aproveitar a generosidade das ruas persiste, reafirmando um hábito singular: manga que cai, é manga disputada! Recentemente, turistas japonesas viralizaram ao se maravilharem com essa cena corriqueira em Belém: ruas adornadas por mangas caídas.

O registro ocorreu durante a COP 30, que acontece na capital paraense até o dia 21. As visitantes ficaram impressionadas com a profusão de mangas que se desprendem naturalmente das árvores e cobrem as calçadas. A cena, inerente ao cotidiano belenense, despertou atenção pela abundância e tamanho das frutas.

A COP 30 coincide com o período de safra, quando as mangas amadurecem e se soltam dos galhos, formando um manto frutífero no chão. Nesta terça-feira (18), a equipe do Portal Pai D’Égua testemunhou mais um capítulo desse ritual belenense: a manga cai, a corrida se inicia, e a conquista do “tesouro” é celebrada, muitas vezes, com farinha, a companheira inseparável.

Há quem saboreie a manga ali mesmo, enquanto outros preferem desfrutar da fruta com calma e um acompanhamento tipicamente paraense: farinha. A artesã e bibliotecária Cíntia Arruda, 50 anos, que trabalha na Praça da República, confirma a “disputa” diária. Ela relata que os turistas também se encantam com a facilidade de acesso à fruta. “Eles ficam impressionados e pegam. Mas, geralmente, somos nós e os feirantes da praça que aproveitamos”, afirma.

Segundo Cíntia, o instante em que a manga toca o chão desencadeia uma verdadeira competição: “É uma disputa. Caiu, o pessoal corre para pegar”. E, na manhã desta terça-feira, a colheita foi farta: “Acho que já peguei mais de 10. Estão todas na sacolinha”. Cíntia saboreia as mangas de duas formas: “Levo para casa ou como aqui. Aqui não dá para comer com farinha, mas lá em casa tem todo aquele ritual com farinha”, revela.

A artesã destaca que esta é a época de maior queda de mangas. “Sim. Principalmente pela manhã, quando venta bastante. Acontece todo dia”. E quando a manga cai durante o atendimento a um cliente? “Nesse caso, o colega corre na frente para pegar. Ou a gente grita: ‘pega, pega, pega’. O importante é não perder a manga”, diverte-se.

Outro personagem presente no cotidiano das mangueiras da Praça da República é Reginaldo Pacheco Nascimento, lavador de carros de 65 anos. Ele trabalha na praça desde a juventude, seguindo os passos do pai, e mantém o hábito de recolher mangas das árvores centenárias. “Pego a manga para comer, levo para casa e dou para as vizinhas”, conta. E a forma predileta de consumo é unânime: “Com farinha”, afirma. Reginaldo confirma que esta é uma temporada generosa: “Cai muita manga. Daqui a pouco, cai mais”. A quantidade que ele recolhe impressiona: “Levo um saco até a ‘boca’, bem cheio. Todo dia. Chove, cai manga, eu levo. Na chuva também”, relata, ressaltando que esse hábito o acompanha desde a infância.

“Lugar Abençoado por Deus”, diz Pedreiro

Na Avenida Governador José Malcher, o pedreiro Aldo Manoel, 49 anos, aproveitou a safra de mangas em Belém para coletar os frutos caídos das mangueiras centenárias. Em poucos minutos, encheu uma sacola com cerca de 20 mangas. Aldo, que não costuma passar diariamente pela área, aproveita a oportunidade sempre que o trabalho o leva ao centro da cidade.

“Quando eu tenho a oportunidade de vir para cá, eu junto algumas para levar para casa e aproveitar com a minha esposa, que gosta também”, contou. Segundo ele, a prática virou um costume familiar.

Aldo reconhece que a safra causa transtornos, especialmente para motoristas, mas destaca que, para muitas pessoas, a fartura é um presente da cidade. “Para quem tem carro é um prejuízo. Mas, para nós, é benção, de juntar e poder levar para compartilhar com a nossa família. Eu acho bom”, disse. Embora não seja um fã assíduo da fruta, ele conta que a esposa compensa: “Olha, eu não como muito. Mas a minha esposa ela come demais. Gosta muito. Quando eu tenho a oportunidade de vir trabalhar aqui para o centro da cidade, que eu vejo, que é no chão, e eu levo para ela”.

Aldo acrescentou: “Eu posso dizer que nós vivemos num lugar abençoado por Deus. Tem de tudo. E, para onde eles (os turistas) moram, tem, mas é caro. E nós temos aqui a de abundância que, muitas das vezes, estraga”. O pedreiro citou outras frutas que se espalham pela cidade: “É manga, é jaca, é jambo… Isso é muito interessante para a nossa cultura, para a nossa Belém”, disse. Apesar da fartura, Aldo destacou a importância de manter o cuidado com as mangueiras históricas de Belém, muitas ameaçadas pelo tempo.

“Eu acho que mais órgãos públicos têm mais que dar uma olhada mesmo para essas mangueiras, ainda mais essas centenárias, que já tem muito tempo já. Eles têm que dar mais uma olhada… para não ter muito prejuízo também, tanto para o ambiente como para os pedestres e para quem tem carro. Mais atenção para elas”, observou.

“Árvores de Natal da Cidade”, diz Historiador

Durante a COP 30, enquanto visitantes se surpreendem com as mangueiras carregadas, o historiador Diego Pereira recorda que essas árvores são parte da identidade da capital paraense, funcionando como “árvores de Natal” da cidade.

“Nesse período, elas estão bastante frondosas e os frutos caem a partir dessa época até março. A coincidência com a COP é notável”, comenta.

Origem Asiática e Chegada ao Pará

Diego explica que as mangueiras têm origem asiática e foram trazidas para o Brasil no século XVIII, como parte de uma política paisagística. Arquitetos e urbanistas, como Antônio Landi, idealizaram um ambiente mais agradável e adaptado ao clima tropical.

No século XIX, o intendente Antônio Lemos intensificou esse processo, consolidando um modelo de estruturação urbana pautado no desenvolvimento das mangueiras. Esse movimento coincidiu com a expansão urbana de Belém, levando as árvores a ocupar ruas inteiras nos bairros do centro expandido.

Onde Elas se Concentram Hoje

Segundo o historiador, a distribuição das mangueiras revela a história urbana de Belém. “Elas estão em áreas centrais como Nazaré, Batista Campos e Umarizal, áreas de expansão urbana dos séculos XVIII e XIX”, explica.

Por que a Mangueira foi Escolhida?

A escolha da mangueira não foi aleatória. “Elas proporcionam sombra, compõem o visual da cidade, ajudam na aclimatação urbana, decoram vias e calçadas, e geram renda para quem coleta e vende os frutos”, afirma. Apesar dos desafios, como a queda de frutos sobre carros e calçadas, as mangueiras representam um hábito paraense. “É comum ver apanhadores em cada esquina. É cultural: você passa, pega uma manga, leva para casa ou come ali mesmo”, completa.

Para Diego Pereira, as mangueiras são parte da simbologia cultural e da forma como os paraenses se relacionam com a cidade. “Elas fazem parte da nossa alimentação e da forma como nos relacionamos com as frutas, em particular, com a manga.”

E você, já aproveitou a safra de mangas em Belém? Compartilhe sua experiência nos comentários! E não se esqueça de seguir o Portal Pai D’Égua para mais notícias e curiosidades sobre o nosso Pará!

Portal Pai D’Égua – O Pará na palma da sua mão!

Fonte: https://www.oliberal.com

ANÚNCIOS

// bombando!

// Veja também