Escondido sob a vasta extensão da Amazônia, repousa o maior reservatório subterrâneo de água doce do planeta, o Sistema Aquífero Grande Amazônia (Saga). Com uma capacidade estimada em mais de 150 quatrilhões de litros, este gigante hídrico detém o potencial de abastecer toda a população mundial por um período impressionante de 250 a 300 anos.
A descoberta do Saga, fruto de uma pesquisa realizada na Universidade Federal do Pará (UFPA), revela uma riqueza natural de proporções globais. O estudo, que se originou como uma tese de doutorado com o objetivo de quantificar os recursos hídricos da Amazônia, identificou que o Saga não apenas armazena, mas também produz água, configurando-se como um sistema geológico complexo e vital.
Com uma área de aproximadamente 1,35 milhão de quilômetros quadrados, o Saga se estende desde a Cordilheira dos Andes até a Ilha do Marajó, cortando importantes regiões como Manaus, Parintins e Santarém. Embora a maior parte de sua extensão (75%) esteja em território brasileiro, o aquífero também se projeta sobre o estado do Pará, cobrindo entre 30% e 35% de sua área total.
Em termos de volume, o Saga supera em larga escala o Aquífero Guarani, até então considerado um dos maiores da América do Sul. Com 162.000 km³ de água, o Saga é quatro vezes maior que o Guarani, que possui 39.000 km³.
Apesar de sua importância estratégica para o Brasil e a América do Sul, o Saga, diferentemente do Aquífero Guarani, nunca recebeu apoio financeiro significativo para estudos e pesquisas. A descoberta, que ocorreu há mais de uma década, ganha relevância no contexto da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), momento em que a gestão e conservação dos recursos hídricos se tornam temas centrais.
O Saga desempenha um papel crucial no ciclo hidrológico da Amazônia, contribuindo com 70% dos reservatórios que geram energia elétrica no Brasil. Além disso, a água subterrânea do aquífero é fundamental para o abastecimento urbano, com cidades como Santarém e Parintins dependendo significativamente dessa fonte para o consumo humano. Em Belém, estima-se que entre 35% e 40% da água distribuída na região metropolitana provenha dos aquíferos subterrâneos.
A preservação do Saga é essencial para garantir a segurança hídrica e a produtividade econômica do Brasil. A Amazônia, através do processo de evaporação e evapotranspiração, transfere anualmente uma média de 8 quatrilhões de litros de água para as regiões Centro e Sul do país, sustentando o agronegócio brasileiro, um setor chave para o Produto Interno Bruto (PIB).
A remoção da floresta, que já atinge cerca de 18% a 20% da Amazônia, ameaça o equilíbrio do ciclo hidrológico, intensificando as cheias e diminuindo a infiltração da água no solo. A manutenção da floresta é crucial para garantir o abastecimento contínuo dos rios ao longo do ano e para preservar a capacidade de recarga do Saga, assegurando a disponibilidade desse recurso vital para as futuras gerações.
Fonte: www.oliberal.com