Novas diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) redefinem o panorama da saúde cardiovascular no país, estabelecendo metas mais rigorosas para os níveis de colesterol e reconhecendo oficialmente o risco cardiovascular extremo. A mudança de paradigma enfatiza a importância da prevenção e do controle do colesterol LDL (o “colesterol ruim”) desde o início da vida adulta, mesmo em indivíduos considerados de baixo risco.
A principal mudança é a percepção de que não existe um nível “seguro” para o colesterol alto. Quanto mais baixos os níveis de LDL, menor o risco de eventos cardiovasculares, como infarto e AVC. Para indivíduos de baixo risco, a nova meta é manter o LDL abaixo de 115 mg/dL. Níveis acima desse valor exigem mudanças no estilo de vida, e a possibilidade de tratamento medicamentoso entra em cena se o LDL ultrapassar 145 mg/dL.
Uma das maiores inovações é o reconhecimento do grupo de risco cardiovascular extremo. Essa categoria inclui pacientes que já sofreram múltiplos eventos cardiovasculares, que apresentam doenças progressivas apesar do tratamento, ou que tiveram um evento cardiovascular combinado com pelo menos duas condições de alto risco, como diabetes, tabagismo ou doença renal crônica. Para esses pacientes, a meta de LDL é ainda mais agressiva: abaixo de 40 mg/dL.
Apesar das metas mais exigentes, a diretriz ressalta a importância dos hábitos saudáveis, principalmente para quem está em baixo risco. Alimentação balanceada, rica em fibras e pobre em ultraprocessados e gordura saturada, atividade física regular (150 minutos semanais de atividade aeróbica), controle do peso (IMC) e abandono do tabagismo são pilares fundamentais para manter o colesterol dentro da meta e evitar o uso de medicamentos.
O uso de medicamentos, como as estatinas, continua sendo uma opção, mas de forma individualizada. Em casos de risco alto ou extremo, a medicação pode ser iniciada imediatamente, juntamente com as mudanças no estilo de vida. Já em pessoas de risco baixo, o médico deve aguardar pelo menos três meses de mudanças comportamentais antes de considerar o uso de fármacos, a menos que os níveis estejam muito elevados.
A atualização das diretrizes também traz uma nova interpretação da pressão arterial. O valor “12 por 8” (120×80 mmHg), antes considerado ideal, agora é classificado como pré-hipertensão, indicando um risco aumentado no longo prazo e a necessidade de medidas preventivas, como reduzir o consumo de sal e praticar exercícios.
A SBC reforça a importância do acompanhamento regular da saúde cardiovascular, com medição da pressão arterial ao menos uma vez ao ano, mesmo sem sintomas, e controle do colesterol a partir dos 20 anos, com frequência variando de acordo com o risco. Exames complementares, como ultrassom de carótidas ou escore de cálcio, podem ser indicados conforme o histórico de cada paciente. A mensagem principal é clara: a prevenção é o melhor remédio e precisa ser levada a sério para evitar doenças graves.
Fonte: www.oliberal.com